Como lidar com arrependimentos
- Amanda Gabriele Cruz Carvalho
- 10 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
A cabeça da gente é expert em bolar arrependimentos. Esses dias mesmo eu estava imaginando como seria se voltasse à época do ensino médio com a cabeça de hoje em dia. Como minha vida seria diferente se eu não fosse tão bitolada nos estudos?
Pode ser que seu arrependimento se ocupe de acontecimentos mais recentes e urgentes: uma frase que saiu errado, um momento de impulsividade ou uma sequência de perdas de oportunidades.
Sabemos que a mente humana vai gerar esses arrependimentos vez ou outra, às vezes com mais frequência, outras vezes com menos. É uma sensação horrível saber que o tempo não volta atrás e certas coisas não podem ser consertadas. A gente pensa “Não adianta chorar pelo leite derramado!”, mas continua remoendo aquilo. E chorar não adianta mesmo, no sentido de que não dá pra mudar o passado. É até injusto querer que o Eu do passado soubesse tudo que o Eu de agora sabe para poder fazer diferente. Mas pode adiantar deixar que os arrependimentos façam seu trabalho e nos orientem ao que valorizamos.
Se você se arrepende de algo, essa coisa te incomoda. Ok, mas o que exatamente te incomoda na situação?
Provavelmente você vai chegar em um dos seguintes cenários:
Resultado diferente do esperado (apressadamente rotulado como “fracasso”);
Resultado esperado, mas reação negativa de determinadas pessoas;
Resultado esperado, reação positiva ou neutra das pessoas, mas insatisfação pessoal com o que você precisou fazer para atingir isso.
Por exemplo, meu arrependimento com o ensino médio cai neste terceiro cenário: passei na faculdade que eu queria (resultado esperado), as pessoas me parabenizaram por isso (reação positiva ou neutra), mas minha saúde mental e vida social foram altamente prejudicadas por 10h de estudos, seis dias da semana, três anos seguidos. Se eu tivesse saído de atividades extra curriculares que não faziam sentido (eram só porque talvez, quem sabe, fosse importante para o currículo depois) e me cobrado menos na preparação pro vestibular, eu pudesse ter cultivado mais as minhas amizades e aproveitado atividades de lazer.
O terceiro cenário talvez seja o mais direto para formularmos o valor por trás do arrependimento. O valor será buscar, daqui para frente, justamente aquilo que sacrificamos para atingir os resultados esperados e a reação favorável de determinadas pessoas. O resultado final nem sempre é o mais importante. Como bem escreveu Lygia Fagundes Telles:
“Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. [...] A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas”
A partir disso, é importante refletir o que poderia ter ajudado a superar a busca por aprovação e/ou sucesso (DICA: foque em ajudas externas e mudanças no ambiente, porque aqui não acreditamos em “força de vontade” como algo que pode ser magicamente acessado). Isso pode te dar uma luz sobre o que você precisa agora, em sua tentativa de focar no que é mais relevante.
Se o seu arrependimento cai no primeiro cenário, sobre não ter atingido um resultado esperado, vamos com calma! Pode até ser que bastava ter se esforçado mais, ter tido outra estratégia ou coisa parecida, e aí você pode levar essa lição para futuras oportunidades. Mas será que você realmente tinha tanto controle sobre o resultado? É incrível a capacidade humana de superestimar seu poder de influência sobre os acontecimentos externos. Só podemos escolher o que vamos fazer e olhe lá. Quem dirá com coisas complexas como passar em processos seletivos, faturar mais, encontrar um amor, resolver conflitos etc. Rotular como “fracasso” geralmente esconde um universo de fatores que estavam fora do seu alcance mudar.
Vou além: será que o resultado em si era o mais importante? Valeria a pena sacrificar algumas coisas bacanas durante o processo para atingir esse resultado? Você pode ter sido a pessoa que fez algo parecido com o que eu gostaria de ter feito no meu ensino médio: priorizou sua saúde e suas relações. Então, se o resultado foi diferente em nome de algo maior, mais significativo para você, que feliz escolha!
Por fim, você pode ter arrependimentos sobre comportamentos que geraram uma reação negativa de determinadas pessoas, embora o resultado tenha sido como você gostaria. Ou seja, você essencialmente discordava dessas pessoas, mas a desaprovação te fez questionar suas ações. Veja bem, questionar as próprias ações não necessariamente é ruim. Algumas reflexões para você avaliar se está sendo escravo da opinião alheia:
Como esse questionamento é feito? Existe cuidado com as suas necessidades e fundamento na realidade? Se outras pessoas soubessem do resultado que está sendo questionado, elas teriam a mesma opinião? O que essas pessoas levam em consideração para ter essa opinião diferente? Esses novos aspectos são importantes para você?
No fim das contas, seguimos com nossos arrependimentos tão humanos quanto respirar, e tão úteis quanto uma placa a nos guiar. Que você possa vê-los com outros olhos, mais curiosos e gentis!

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